A natureza sob a DITADURA da minoria
Marcos Antonio Dantas de Oliveira
Ora uns poucos, homens e mulheres [com muita riqueza privada] a exercem
com vigor ao usar no conforto de suas vidas, o consumo supérfluo de
produtos [programadamente obsoleto], quer oriundos da natureza, quer
produzidos artificialmente; utilizam suas posições sociais privilegiadas
para engendrarem seus desejos, como direito secular; uma cultura
senhorial, que usa o consumo de luxo como ferramenta para demarcar a
distância social entre os vários segmentos da sociedade: escolarizados e
analfabetos, ricos e pobres, produtores e consumidores, serviçais e
protagonistas.
E esses poucos apropriam-se e usufruem com vigor dos bens primários:
liberdade, cidadania, educação, segurança alimentar, renda,
inteligência, felicidade... .
Uma ditadura da minoria, por prerrogativas econômicas e patrimoniais,
que devasta a natureza pela forma mais degradante de consumo – ouro em
pias e em ralos – a opulência [aqui mede-se o tamanho da desigualdade
pela luxúria, soberba e avareza]. Esses ditadores usam suas influências
pelo uso do poder e do dinheiro em todas as instâncias do fluxo circular
da vida humana para provocar danos irreversíveis aos biótipos, biótopos
e biomas. E com rigor aos homens e mulheres, ora em condições sociais
que não são as suas.
Ora muitos outros, homens e mulheres [com pouca riqueza privada],
inclusive, o agricultor, o extrativista, o pescador [... quilombola,
quebradeira de coco, catadora de mangaba, faxinalense, fundo de pasto,
índio], o rurícola e sua heterogênea tipificação e hierarquia, a fazem
também com vigor, nesse caso pela carência de alimentação, vestuário,
renda, moradia, educação e políticas públicas que sustente-lhes com vida
digna; e assim usam os recursos naturais como ferramenta de manutenção
de suas lógicas familiares – mito, cultivo, propriedade comum, ocupação,
renda, posse, sucessão e família; e irremediavelmente degradam os
biótipos, biótopos e biomas, severamente.
Um sobreviver precário, para muitos uma tarefa árdua: do sobretrabalho e
subemprego de adultos como de crianças e adolescentes - "despachos
judiciais permitem a adolescentes de 14 e 15 anos trabalhar; e a
quantidade de autorizações envolvendo crianças mais novas, até 13 anos, é
assustadora" (Ecodebate. com. br, 2011/out/24); uma situação ilegal,
uma afronta ao Estatuto da Criança e do Adolesecente/ECA. E para outros
tantos, desemprego.
Como também do procriar aflito: por moradia insalubre, desnutrição,
assistência social precária e insuficiência de rendas produtivas e ou
não produtivas.
É uma outra ditadura da minoria, agora ao avesso, que por ausência de
prerrogativas econômicas e patrimoniais, esses ditadores devastam a
natureza pela forma mais decidida de resistência – lenha para cozinhar,
aquecer e vender – a sobrevivência [aqui mede-se o tamanho da
desigualdade pela falta ou insuficiência dos bens primários]. Nessa,
agricultores, extrativistas e pescadores familiares [povos e comunidades
tradicionais], em maioria, e presente nos estados com indicadores
sociais baixos – Alagoas, um deles, inclusive com um serviço de pesquisa
agropecuária e extensão rural ineficaz, e assim incapaz de ajudá-los a
sair dessa incômoda posição.
Onde estão as vantagens ecológicas, sociais e éticas dos agricultores,
extrativistas e pescadores familiares [povos e comunidades
tradicionais]?
Porém, as relações entre essas categorias por conviver no mesmo
território, no âmbito da esfera privada, requer argumentações e alianças
para assim reordenar seus assentamentos com novas relações para educar
usar, conservar e preservar os recursos: flora, fauna, minerais,
fósseis, água, ar, luz solar; para a diversidade de política: ecológica e
econômica, fundiária e ambiental, produção e consumo, moradia e
seguridade social, agrícola e seguros nas atividades do primeiro,
segundo e terceiro setor, como para a cultura dos povos tradicionais e
autotócnes, suas etnias e seus patrimônios imateriais.
É imperativa uma convivência assentada no controle e na distribuição da
riqueza econômica e pública – bens, serviços e lucros, potenciais
ecológicos e impostos.
E no âmbito da esfera pública [viver junto] entender as frágeis relações
sociais com as outras categorias, e assim atinjam mortamente essas
imperativas ditaduras que os impedem de serem livres, iguais e felizes,
de terem vida digna, para além do Homo economicus, para o
Desenvolvimento [Durável] Sustentável – conflito, gestão e justiça
social em concertação. Aliás, compreender o estado da vida [e de vida]
dos sem-acessos, no presente, é reorganizar e melhorar com trocas
desinteressadas e solidárias, às trocas desiguais ecológicas e
econômicas.
Portanto, é a dialética como exercício máximo de sua individualidade
[liberdade individual e cidadania igual], que assegura-lhes não só a
liberalização de uma vida confortável; sobretudo, à liberdade de suas
escolhas individuais e coletivas; de aperfeiçoá-las ao longo da vida
para desfrutar dos bens primários em contínuos processos de
aprendizagem, de desaprendizagem e de reaprendizagem dos princípios
ecológicos – autonomia, interdependência, parceria, cooperação,
diversidade, flexibilidade – e dos fundamentos econômicos – ativos,
dividendos e lucros –, ao pensar, dialogar e agir para assegurar que a
gestão estratégica e operacional dos recursos [inclusive os naturais] e
da estrutura dos impostos efetivem os objetivos estabelecidos pelo setor
estatal e pelo setor privado [do planejamento estratégico ao bem-estar,
da produção ao consumo sem desperdício, da legislação à fiscalização
eficiente, da pesquisa ao ensino de qualidade, da inovação ao ganho de
produtividade, da mídia ao voto incorruptível].
Afinal, para aonde estão indo, com tanta insegurança, inclusive a
jurídica, o agricultor, o extrativista, o pescador [... quilombola,
quebradeira de coco, catadora de mangaba, faxinalense, fundo de pasto,
índio], o rurícola e suas famílias?
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