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Seminário debate agroecologia no Semiárido
Acontece nesta quinta-feira (28), Dia da Caatinga, o“Seminário Caminhos do Semiárido: Olhares da Agroecologia no Sertão de Pernambuco”, a partir das 08h. O evento será realizado na Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). O encontro está sendo organizado pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido(NEPPAS).
A proposta do Seminário é aprofundar a discussão sobre agroecologia entre os agricultores e as agricultoras familiares, professores e alunos da universidade e sociedade.
A programação se divide em dois painéis. O primeiro “Agroecologia no Semiárido” e o segundo “Que Semiárido queremos? Projetos e disputas para a agricultura familiar no Sertão pernambucano”, que contará com a participação da presidente do CECOR e assessora do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, Vanete Almeida, e do secretário estadual de Agricultura Familiar, Aldo Santos.
Na pauta do encontro, estará também a publicação do decreto para a formação da primeira Unidade de Conservação Estadual na Caatinga em Pernambuco pelo secretário estadual de Meio Ambiente, Sérgio Xavier. O sistema envolve um complexo de serras, riachos, matas e nascentes com informações biológicas e abióticas da fauna e flora do bioma.
Na ocasião, haverá mostra de produtos da agricultura familiar agroecológica, apresentações culturais e experiências de organizações como a Casa da Mulher do Nordeste, Centro Sabiá, Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Diaconia e CECOR.
NEPPAS - É constituído por uma equipe de professores e alunos de diversas áreas, tais como agronomia, zootecnia, engenharia de pesca, economia e sociologia, com enfoque multi e interdisciplinar dando vistas ao meio rural, suas dinâmicas e transformações permanentes, em parceria com o CECOR e o IPA.
Por Sabrina Passos (MBPress
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Conheça:
Diversidade e uso das plantas nativas (05/12/2005)
Maria do Socorro Bona Nascimento*
Maria Elisabete Oliveira*
As plantas nativas constituem importante patrimônio cultural e econômico para as populações locais. O melhor conhecimento dessas plantas, sobretudo pelos jovens, cria um elo entre as gerações, valorizando-se assim as raízes culturais e assegurando a continuidade do saber local. Além disso, o conhecimento leva à apreciação e esta ao uso racional, que, por sua vez, reduzirá a crescente ameaça à biodiversidade.
Em três assentamentos localizados em São João do Piauí, a Embrapa Meio-Norte, contando com a parceria da Universidade Federal do Piauí, realizou um levantamento sobre as plantas locais e seus usos. As citações foram espontâneas, pedindo-se apenas às pessoas que fossem relacionadas separadamente as árvores/arbustos e as herbáceas/subarbustos. Foram respondidos 52 questionários, por pessoas indicadas como detentoras de conhecimento sobre as plantas.
No total, foram citadas 82 plantas e os usos forrageiro, apícola, medicinal, madereiro, melhoramento de solo, produtoras de carvão, lenha e vara. Outras utilidades, relacionadas em menor escala, foram o emprego em artesanato (confecção de chapéus, vassouras, cestos e esteiras), na alimentação humana e na produção de sombra. Ocorreram ainda indicações de plantas ”produtoras de veneno” sejam aquelas usadas no controle das pragas agrícolas ou as tóxicas aos animais.
As plantas mais citadas foram catingueira, marmeleiro e angico-de-bezerro (ou catanduva), com mais de 50% das citações. Em uma segunda categoria, com menos de 50% a 20% das citações, destacaram-se angico, jitirana, camaratuba e jurema preta. Portanto, as plantas lenhosas e perenes, que são predominantes na vegetação local, foram as mais citadas. Entre as herbáceas e anuais descaram-se jitirana, bamburral, cabeça-branca, malva e mata-pasto.
Os fatores mais importantes para a citação de uma espécie de planta foram a sua abundância na área, seguida da sua utilidade. Assim, verificou-se que a catingueira, apesar de não se destacar nas citações de uso, tendo porém ocorrência muito comum, foi a mais citada.
O angico-de-bezerro, de menor ocorrência, porém com vários usos, foi a terceira mais citada. O marmeleiro, de elevado uso e alta ocorrência, ficou em segundo lugar. Ressalte-se que algaroba (esta apesar de não ser nativa já é natuzalizada na região) e o juazeiro foram citadas somente por 19% e 16% dos entrevistados, respectivamente, por não serem comuns na área do assentamento.
Considerando-se o uso, a categoria mais citada foi a forrageira, com 186 citações, seguindo-se as categorias madereira e medicinal (ambas com 75 citações), apícola (58) e lenha (43). Como uso na alimentação humana foram citadas, por apenas uma pessoa, guabiraba e umbuzeiro, indicando que a população não depende das plantas locais para sua própria alimentação.
As plantas mais citadas como forrageiras, em ordem decrescente, foram angico-de-bezerro, marmeleiro, jitirana e camaratuba. Como apícolas destacaram-se bamburral, marmeleiro, angico-de-bezerro, mofumbo e camaratuba. O marmeleiro sobressaiu também como medicinal, seguido pelo angico-de-bezerro e o mofumbo. O angico-de-bezerro foi também a espécie mais citada como madereira.
Portanto, excetuando-se a alimentação humana, ficou notória a múltipla utilidade das plantas locais para a população, o que indica a importância da divulgação do seu valor e de medidas que assegurem sua proteção contra as diversas pressões de uso, que podem levar ao desaparecimento das espécies mais usadas.
Esse desaparecimento diz respeito não somente às populações locais mas também à sociedade de forma mais ampla, pelo potencial de uso, das próprias plantas ou de seus produtos, em regiões onde não ocorrem naturalmente.
Nomes populares e os respectivos nomes científicos das plantas citadas:
Algaroba – Prosopis juliflora (Sw.) DC
Angico - Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Angico-de-bezerro (ou catanduva) - Piptadenia moniliformis Benth
Bamburral - Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Cabeça-branca – Althernanthera brasiliana (L.) Kuntze
Camaratuba - Cratylia mollis Mart. ex Benth
Catingueira – Caesalpinia bracteosa Tul.
Guabiraba - Campomansia sp.
Jitirana - Ipomoea sp.
Juazeiro - Ziziphus cotinifolia Reissek.
Jurema preta – Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret.
Malva – Sida cordifolia L., S. acuta Burm., S. angustifolia A.St.-Hil. e S. rhombifolia L.
Marmeleiro - Croton sonderianus Muell. Arg.
Mata-pasto - Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby
Mofumbo – Combretum leprosum Mart..
Umbuzeiro – Spondias tuberosa Arruda
-* Maria do Socorro Bona é doutora em Manejo de Pastagem Nascimento e pesquisadora da Embrapa Meio-Norte (Teresina- PI) - sbona@cpamn.embrapa.br
-* Maria Elisabete Oliveira é professora da Universidade Federal do Piauí