Economia verde versus economia solidária. Artigo de Leonardo Boff
junho 17, 2012 in
Cúpula dos Povos,
Rio+20,
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Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20),
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Rio + 20,
United Nations Conference on Sustainable Development (Rio + 20)
“O futuro que queremos”, lema central
do documento da ONU, não é outra coisa senão o prolongamento do
presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança.
Num contexto desses, não avançar é retroceder e fechar as portas para o
novo”, escreve
Leonardo Boff, filósofo, teólogo e escritor.
Segundo ele, junto com a “Rio+20 seria um
ganho resgatar também a Estocolmo+40″, pois, continua Leonardo Boff,
“nesta primeira conferência mundial da ONU de 5-15 de julho de1972 em
Estocolmo na Suécia sobre o Ambiente Humano, o foco central não era o
desenvolvimento mas o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o
que nos cerca e que está em acelerado processo de degradação, afetando a
todos e especialmente aos países pobres. Era uma perspectiva
humanística e generosa. Ela se perdeu com a cartilha fechada do
desenvolvimento sustentável e agora com a economia verde”.
Eis o artigo.
O Documento Zero da ONU para a Rio+20 é
ainda refém do velho paradigma da dominação da natureza para extrair
dela os maiores benefícios possíveis para os negócios e para o mercado.
Através dele e nele o ser humano deve buscar os meios de sua vida e
subsistência. A economia verde radicaliza essa tendência, pois, como
escreveu o diplomata e ecologista boliviano Pablo Solón, “ela busca não
apenas mercantilizar a madeira das florestas mas também sua capacidade
de absorção de dióxido de carbono”. Tudo isso pode se transformar em
bônus negociáveis pelo mercado e pelos bancos. Destarte, o texto se
revela definitivamente antropocêntrico como se tudo se destinasse ao uso
exclusivo dos humanos e a Terra tivesse criado somente a eles, e não a
outros seres vivos que exigem também sustentabilidade das condições
ecológicas para a sua permanência neste planeta.
Resumidamente: “O futuro que queremos”,
lema central do documento da ONU, não é outra coisa senão o
prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro
de esperança. Num contexto desses, não avançar é retroceder e fechar as
portas para o novo.
Há outrossim um agravante: todo o texto
gira ao redor da economia. Por mais que a pintemos de marrom ou de
verde, ela guarda sempre sua lógica interna que se formula nesta
pergunta: quanto posso ganhar no tempo mais curto, com o investimento
menor possível, mantendo forte a concorrência? Não sejamos ingênuos: o
negócio da economia vigente é o negócio. Ela não propõe uma nova relação
para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua
vitalidade e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como
denuncia o filósofo da ecologia Michel Serres. Nesta guerra não
possuímos nenhuma chance de vitória. Ela ignora nossos intentos. Segue
seu curso mesmo sem a nossa presença. Tarefa da inteligência é decifrar o
que ela nos quer dizer (pelos eventos extremos, pelos tsunamis etc.),
defender-nos de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor.
Ela nos oferece informações mas não nos dita comportamentos. Estes
devem se inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso
estiverem em conformidade com seus ritmos e ciclos.
Como alternativa a esta economia de
devastação, precisamos, se queremos ter futuro, opor-lhe outro paradigma
de economia de preservação, conservação e sustentação de toda a vida.
Precisamos produzir sim, mas a partir dos bens e serviços que a natureza
nos oferece gratuitamente, respeitando o alcance e os limites de cada
biorregião, distribuindo com equidade os frutos alcançados, pensando nos
direitos das gerações futuras e nos demais seres da comunidade de vida.
Ela ganha corpo hoje através da economia biocentrada, solidária,
agroecológica, familiar e orgânica. Nela cada comunidade busca garantir
sua soberania alimentar. Produz o que consome, articulando produtores e
consumidores numa verdadeira democracia alimentar.
A Rio-92 consagrou o conceito
antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento sustentável, elaborado
pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. Ele se transformou num dogma
professado pelos documentos oficiais, pelos Estados e empresas sem nunca
ser submetido a uma crítica séria. Ele sequestrou a sustentabilidade só
para seu campo e assim distorceu as relações para com a natureza. Os
desastres que causava nela, eram vistos como externalidades que não
cabia considerar. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, capazes de
destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida humana e grande
parte da biosfera. Isso não é superado pela economia verde. Ela
configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que
produziu o texto teórico do PNUMA Iniciativa da Economia Verde. Com
isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, a
injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo econômico
falido e mudança de olhar sobre o planeta que possa projetar um real
futuro para a humanidade e para a Terra.
Junto com a Rio+20 seria um ganho
resgatar também a Estocolmo+40. Nesta primeira conferência mundial da
ONU de 5 a 15 de julho de1972 em Estocolmo na Suécia sobre o Ambiente
Humano, o foco central não era o desenvolvimento mas o cuidado e a
responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está em
acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente aos
países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. Ela se perdeu
com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e agora com a
economia verde.
Em: Centrode Estudos Ambientais
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