O documentário Linha de Organdi, dirigido e escrito pelo diretor cearense Glauber Filho estreia hoje na TV Cultura. O vídeo de 58 minutos vai estrelar o programa DOCTV, que uma vez por semana traz uma nova produção audiovisual para a televisão, com vídeos de realizadores de todo o Brasil.
Conhecido por sua direção em Bezerra de Menezes: o diário de um espírito, que levou mais de 500 mil pessoas aos cinemas brasileiros, o cineasta Glauber Filho registrou os segredos, paixões, dores e lutas das labirinteiras dos Córregos de Anica, no município de Aracati, no interior cearense. As mulheres rendeiras, que fazem sua arte em linhas de organdi, um tecido leve e branco usado pelas labirinteiras para fazer bordados, assim como Aracne fazia de acordo com a mitologia grega. Linhas de Organdi traz uma história da cultura arcaica, no Interior do Ceará, e de como a tecelagem era feita nos tempos em que as rendeiras chegavam a perder a visão por conta do excesso de trabalho.
Linhas de Organdi expõe um caráter diferenciado ao ampliar a linha documental, protagonizado pelas fiandeiras cegas de Aracati e explorar os limites dessa realidade na sua ligação entre realidade e ficção. O documentário traz atrizes da vida real como personagens de sua própria história. A narração parte da representação de possibilidades de acontecimentos cotidianos, interpretados à medida que se desenrolam, seguindo a linha bordada pelo diretor e roteirista.
Labirinteiras: Renovando a Tradição
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Arte secular transmitida de geração em geração: Otrabalhador requer habilidade, criatividade, paciência e conhecimentos em matemática e geometria. Uma visão aguçada e destreza nas mãos também são alguns dos itens necessários para compor a delicadeza dos desenhos nas rendas de labirinto. A técnica é uma herança européia, mais precisamente portuguesa, e chegou ao Ceará em meados do século XVIII. Inserido na cultura praieira cearense, o labirinto é uma técnica artística de domínio popular. Aracati e comunidades próximas como Canoa Quebrada, Marjolândia, Córrego dos Rodrigues, Córrego da Nica, Cumbe, Quixaba e São Chico, são expressivos redutos de labirinteiras.
A arte de rara beleza sobrevive através das gerações, e do apoio recebido de órgãos como o SEBRAE, que com o Programa de Artesanato Irmãos do Ceará fornece meios para as labirinteiras valorizar e perpetuar a cultura da região, paralelamente em que promovem e potencializam o comércio das rendas. O articulador regional do Sebrae Litoral Leste Carlos Paulino ressaltou que os técnicos observaram um fator importante, e que causou preocupação, "notamos que o labirinto contava com artesãs de faixa etária avançada, havendo poucas jovens entre elas", destaca. Sendo, então, um dos objetivos dos cursos e palestras ministrados pelo órgão o resgate das novas gerações. Outros pontos abordados pela instituição, e de suma importância, são a sensibilização, o gerenciamento e a disponibilidade do mercado (retorno financeiro). A labirinteira da praia de Marjolândia, dona Mocinha afirmou que naquela localidade grupos de jovens serão iniciadas na técnica secular em breve, "já estamos organizando o local para as aulas, e em breve elas aprenderão os primeiros pontos", disse satisfeita a artesã. O labirinto é admirado por visitantes do Brasil e do exterior que chegam ao Ceará, e que encantados levam para seus locais de origem alguns exemplares da preciosa arte. As peças também podem ser produzidas por encomenda. Na praia de Canoa Quebrada a Associação de Moradores dos esteves mantém um grupo de vinte labirinteiras. Atualmente elas se dedicam a uma encomenda de cem peças de panos de copos que fará uma longa viagem até o seu destino final: o Japão. "A empresa japonesa Topper apóia o projeto esportivo "Crianças de Luz", e é para ela que estamos preparando o trabalho", salientou a labirinteira Fianga. Ela que aprendeu a engenhosa arte aos 7 anos observando a irmã mais velha diverte-se hoje relembrando o começo, "quando errava um ponto levava uns cascudos da minha irmã até acertar", dissesorrindo Fianga. A finalidade de manter a tradição de uma arte tão trabalhosa e pouco valorizada é uma tarefa difícil em um terreno que se apresenta muitas vezes hostil. Esta hostilidade pode ser traduzida na forma de turistas acharem as peças caras, ou os jovens sentiremse atraídos por trabalhos mais rendosos em grandes centros, e consequentemente não apresentarem interesse em aprender o ofício, o que compromete a continuidade da tradição na região. Porém mesmo enfrentando estas adversidades o labirinto continua em destaque dentro do artesanato cearense. É arte mesmo, que numa menor escala ainda se fortalece e continua a existir através das mãos de jovens e crianças, que certamente, manterão viva a tradição. O DESENROLAR DAS LINHAS DESTA INTRICADA ARTE A renda de labirinto é um minucioso e rico artesanato, feito através de 15 etapas. No final do serviço podemos admirar desenhos de diversas formas como pássaros, flores, ramagens, palmas ou figuras geométricas. O resultado conquista quem vê a formosura e a delicadeza das peças. O labirinto é também uma arte de equipe, pois dependendo do tamanho da peça geralmente os passos do trabalho são divididos entre várias mãos. Os tecidos utilizados no Ceará, geralmente são o linho para serviços de cama, mesa e roupas, o organdi para trabalhos mais delicados como toalhas de bandejas, o tergal para roupas, o bramante para lençóis, e ultimamente tem-se utilizado o tecido de sacos de aniagem para roupas esportivas e panos de enxugar pratos, e seda em sofisticados xales e lenços sociais. As cores dos tecidos empregados são tradicionalmente o branco ou cores bastante suaves, entretanto nos últimos tempos por influência do mercado, se tem empregado tons mais fortes. Uma boa pedida para quem deseja conhecer os belos bordados é visitar o Centro de Artesanato de Aracati, localizado atrás da Igreja da Matriz, construção histórica tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Lá o visitante terá a oportunidade de conhecer e adquirir peças únicas do conhecido trabalho das labirinteiras cearenses. Além do labirinto o artesanato de areias coloridas, e da palha da exótica carnaúba (árvore símbolo do estado do Ceará) também recebem apoio do SEBRAE. |
Jeanne Duarte
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