Em 2008, o Peru foi mobilizado em função do Año Internacional de la Papa, alimento tão importante que a Irlanda teria desaparecido como povo no século XIX, não fosse o cuidado e zelo do povo peruano na conservação das sementes e no cultivo das batatas. Pensei que houvesse uma centena de tipos de batata, mas fiquei estupefata ao saber que, no Peru, se conhece mais de 3 mil espécies.
Sobre a Quinua, é uma boa notícia, mas quando se pensa que esse importante exemplar da biodiversidade da América do Sul, sofre ameaça, é triste, mas é preciso que, conhecendo a história recente das investidas das corporações, saibamos reagir.
Com a "Campanha Mundial das Sementes” promovida pela FAO (órgão da ONU para Alimentação e Agricultura) iniciada em 1951, houve muita divulgação, culminando na decretação de 1961 como Ano Internacional das Sementes. Simultaneamente, estavam em curso gestões para o patenteamento de novas variedades vegetais, com a "Convenção Internacional para a Proteção das novas Variedades Vegetais”, já em 2 de dezembro de 1961. Em seguida foram articulados vários programas e convênios, dentre os quais, o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura.
Com a chamada revolução verde, sobretudo a partir de 1968, foi implementada a indústria mundial de sementes que, com a OMC (Organização Mundial do Comércio), fechou-se o círculo do monopólio das sementes pelas corporações que, até então, haviam produzido os agentes de destruição da natureza como, por exemplo, o "agente laranja” atirados sobre as matas do Vietnã para que fossem desfolhadas.
Enfim, as indústrias da guerra são as que dominam o comércio de sementes. Sabemos como o milho, a soja, o trigo e o arroz sofreram manipulações de modo que suas monoculturas destroem os pequenos cultivos de sementes originais contaminando-as e, além disso, cobrando-lhes royalties pela contaminação.
A ONU, já sabemos, capturada pelas corporações internacionais, faz o jogo delas. A Quinua (Chenopodium Quinoa), alimento considerado sagrado pelos Incas, corre o risco de ser objeto de manipulações genéticas e cair em suas garras, como aconteceu com o milho, a soja, o trigo... Aliás, há milênios, os povos indígenas da América cultivavam o Amaranto, o Jacatupé, a Batata, a Mandioca, o Cacau, o Milho, a Quinua...
A boa notícia do Ano Internacional da Quinua, pode também trazer a má notícia de prejuízos aos povos, com a manipulação pelas corporações que produzem a guerra, o narcotráfico, alimentando os de sempre: os banqueiros. Urge a proteção das sementes como um Bem Comum indispensável para a sobrevivência da humanidade e da biodiversidade.
Veja mais:
- Brasil - Floresta faz a diferença convoca sociedade antes da votação da MP sobre o Código Florestal (WWF Brasil)- Honduras - Histórica sentença no Bajo Aguán (Giorgio Trucchi.)
- Paraguai - Paraguai, democracia falsificada (Frei Betto)
- Brasil - Um SUS que descarta os idosos (Fr. Marcos Sassatelli)
- Mundo - Laços latino-americanos (Dom Demétrio Valentini)
Nenhum comentário:
Postar um comentário