Os
sete mil participantes do Encontro
Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das
Florestas marcharam mais de oito quilômetros, ontem (22), saindo do Parque
da Cidade e chegando ao Palácio do Planalto. Três mil servidores públicos em
greve, estudantes e demais militantes de entidades da sociedade civil
participaram da mobilização, totalizando mais de dez mil pessoas, em luta, na
capital federal.
600
camponeses e camponesas do MCP
participaram da mobilização de denúncia da paralisação da Reforma Agrária,
prioridade do governo ao agronegócio e desassistência à agricultura camponesa. A
marcha criticou os malefícios do agronegócio, que faz com que o Brasil seja o
maior consumidor de agrotóxicos do mundo, concentra terras, gera miséria e problemas
socioambientais no campo e na cidade.
Em
contrapartida, a agricultura camponesa produz mais de 70% da comida que vai à
mesa dos brasileiros e brasileiras e emprega 75% da mão de obra no campo.
Apesar da importância da agricultura familiar camponesa no desenvolvimento do
país, a situação é crítica. São mais de quatro milhões de analfabetos, 40% da
população abaixo da linha de pobreza e 800 mil famílias endividadas.
Altacir
Bunde, da coordenação do MCP, afirma
que essa situação é resultado dos equívocos e da falta de eficiência das
políticas agrícolas para a agricultura camponesa em nosso país. “O governo não
valoriza o campesinato nem a produção camponesa. O governo tem apoiado o
agronegócio, transferindo renda para
as multinacionais através da compra de sementes, adubos, venenos, máquinas e
outros. Diante disso, é preciso rever e reconstruir as políticas públicas para
o campesinato brasileiro, baseado em um novo modelo de desenvolvimento, tendo
como centro a produção camponesa. É por isso que seguiremos fortalecendo nossa
unidade e nossa luta”, reitera Altacir.
A
união dos movimentos sociais do campo, das águas e das florestas, 51 anos após o
Congresso Camponês, sinaliza um
importante momento de unidade e intensificação de lutas, em conjunto, para
pressionar o governo por transformações no campo. A pauta comum objetiva a
transição do modelo agrícola atual para um modelo agroecológico, com respeito à
natureza e identidade dos povos.
Ocupação da Praça dos Três Poderes
Ao
final da marcha, os militantes ocuparam a Praça dos Três Poderes e foram
repreendidos com violência pela polícia. A tensão não desencorajou os milhares
de manifestantes que permaneceram por mais de uma hora no local. Barracos de
lona preta foram erguidos, simbolizando a lentidão da Reforma Agrária e
dificuldades enfrentadas por milhares de camponeses e camponesas.
Cerca
de 15 mulheres, representantes de diversos movimentos sociais, entregaram a
Declaração Final do Encontro Unitário, ao ministro da Secretaria Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho. Aline Nascimento, da
coordenação nacional do MCP
participou da entrega.
“Nós
do MCP reconhecemos que nos últimos anos vários setores da sociedade tiveram
conquistas econômicas e sociais significativas. Mas, quais foram às conquistas
das famílias camponesas? A concentração de terra segue, a reforma agrária está
em marcha ré, a pobreza e o analfabetismo no campo permanecem. As famílias
camponesas querem permanecer na roça produzindo
alimentos para o povo brasileiro e cuidar do meio ambiente. Como conseguir isso
com as políticas públicas ineficientes?”, questiona Aline.
O
documento ressalta a importância da mudança do atual modelo de desenvolvimento
no campo, para o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa e da adoção
de práticas agroecológicas para garantir uma alimentação saudável para a
população brasileira. Além da necessidade de ações mais efetivas do governo
para acabar com a violência no campo contra trabalhadores, trabalhadoras,
comunidades tradicionais e indígenas.
A
declaração também destaca a necessidade urgente da Reforma Agrária como
política essencial para um desenvolvimento justo, respeito às mulheres, garantia
da educação no campo e democratização dos meios de comunicação. O encerramento
do encontro unitário foi realizado em frente ao Congresso Nacional.
A
união dos movimentos sociais segue e será intensificada. Foram feitos diversos
encaminhamentos de articulações e novas mobilizações em conjunto. O encontro
atingiu o objetivo de afirmar a luta dos povos e
grupos sociais reunidos pelo direito a terra e iniciar um processo de unidade
de luta e elaboração de pautas comuns.
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