Movimentos camponeses
unificam luta em MT
O movimento
camponês de Mato Grosso está reunido em
Várzea Grande (MT) nessa quinta e
sexta-feira, no Encontro Unitário dos
Trabalhadores e Trabalhadoras, dos Povos
do Campo, das Águas e das Florestas, para
traçar ações em comum, que fortaleçam e
unifiquem a luta no campo.
As
pautas estão sendo discutidas entre 13
entidades, mais de 250 pessoas de todas as
regiões do Estado, na chácara da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetagri).
A
Fetagri está na coordenação do evento
político, junto com o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), a
Comissão Indigenista Missionário (CIMI),
Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e
o Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB), índios e quilombolas.
Os
participantes estão ligados de uma forma
ou de outra às águas, à terra e à
floresta. São populações que vivem essas
questões na rotina do dia a dia.
Entre
as pautas em comum estão a luta pela
proteção das riquezas hídricas, a luta
pela desconcentração da terra, a luta pela
educação no campo e principalmente a luta
pela terra e pelo território. “O que
queremos é o uso comum das águas, e não
somos contra ninguém, mas o fato é que tem
gente com muita terra e sobramos nós, sem
nenhuma ou com muito pouca terra, e outra
coisa é que educação no campo não é só a
escola estar lá nas comunidades, a grade
curricular tem que corresponder à nossa
realidade rural. Porque o que acontece
hoje é que o estudante está lá no campo,
mas estudando sobre os problemas da
cidade. Se a gente quer garantir a
sucessão rural, então temos que mudar
isso, porque tudo que o estudante vê hoje
em dia na escola é a valorização do
urbano e precisamos construir a cidadania
sim, mas também a camponia”, explica Neuzo
Antônio de Oliveira, da Fetagri.
Mas
por que é preciso unificar? Para o
companheiro Genadir Vieira, o Axé, do MST,
isso é muito importante para fortalecer o
movimento camponês e o MST participa dessa
unificação porque a reforma agrária é um
dos pontos de convergência. “Atualmente
estamos falando de reforma agrária
popular, que venha realmente do povo e
também estamos lutando por assistência
técnica, educação camponesa e a
agroecologia, contra venenos agrícolas,
para melhorar a alimentação da nossa
população, são bandeiras nossas do dia a
dia de luta”.
Axé
destaca que só este ano foram realizadas
em Brasília 14 mobilizações de grupos
camponeses de grande porte e isso resultou
em nenhuma conquista.
O
encontro nacional unificado aconteceu em
Brasília em agosto deste ano.
E
por que foi possível realizar esse encontro? Por
várias razões. Primeiro, porque o capital
está em ofensiva no campo. Sob a hegemonia
do capital financeiro e das empresas
transnacionais está impondo um novo padrão
de produção, exploração e espoliação da
natureza: o agronegócio. E o agronegócio
construiu uma unidade, uma aliança do
capital, aglutinando o capital financeiro,
as corporações transnacionais, a mídia
burguesa e os grandes proprietários de
terra. E essa aliança representa hoje os
inimigos comuns para toda a população que
vive no meio rural, e que depende da
agricultura, da natureza, da pesca, para
sobreviver.
Em segundo lugar, porque estamos
assistindo à subserviência do Estado
brasileiro, em suas várias articulações a
esse projeto. O poder Judiciário, as leis
e o Congresso Nacional operam apenas em
seu favor.
Em
terceiro lugar, estamos assistindo a um
governo federal de composição de forças,
que mescla diversos interesses que vai da
classe trabalhadora ao capital nacional e
internacional, mas que o grande capital e
o agronegócio comanda o projeto
neodesenvolvimentista que está andamento.
Em quarto lugar, percebeu-se que essa
forma de exploração e de produção do
agronegócio está colocando em risco o meio
ambiente, a natureza e a saúde da
população, com o uso intensivo de
agrotóxicos, que matam. Matam a
biodiversidade vegetal e animal e matam
indiretamente os seres humanos, com a
proliferação de enfermidades, em especial
o câncer, como têm denunciado os
cientistas da área de saúde.
Em
quinto lugar, porque o país precisa de um
projeto de desenvolvimento nacional, um
projeto popular que atenda aos interesses
do povo brasileiro e não apenas do lucro
das empresas. Nesse projeto, a
democratização da propriedade da terra e a
garantia dos territórios quilombolas e
indígenas e a forma como devemos organizar
a produção dos alimentos é fundamental.
Em sexto lugar, é necessário que se
reoriente as políticas públicas, de forma
prioritária para preservar o meio
ambiente, produzir alimentos saudáveis com
garantia de mercado, e garantia de renda e
emprego para toda a população que mora no
interior.
Em sétimo lugar, é necessária colocar na
pauta prioritária dos movimentos sociais
do campo a democratização do acesso à
educação, em todos os níveis. Desde um
programa massivo de alfabetização, que
tire da escuridão os 14 milhões de adultos
brasileiros que ainda não sabem ler e
escrever, até garantir o acesso ao ensino
médio e superior aos mais de 3 milhões de
jovens que vivem no meio rural.
Em
oitavo lugar é que para obter conquistas
reais para o conjunto dos agricultores
familiares e camponeses, mais do que nunca
neste momento, é preciso unir todas as
forças do campo e ainda buscar o apoio de
toda a classe trabalhadora urbana, pois o
projeto do agronegócio é um projeto de
morte para o campo e para a cidade, é um
projeto que não se preocupa com a
natureza, com os seres vivos e com as
futuras gerações.
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