A utilização de pó de rocha como fertilizante e corretivo do solo é uma
alternativa para o país reduzir custos de produção da agricultura e
romper com a atual dependência de insumos importados, sem comprometer a
produtividade das lavouras. A adoção da prática, conhecida como
rochagem, foi defendida por todos os especialistas reunidos nesta
terça-feira (7 de fevereiro de 2012) em debate na Comissão de Meio
Ambiente (CMA).
Conforme explicaram os pesquisadores, rochagem é a incorporação de
rochas moídas ao solo, como forma de tornar a terra menos ácida e mais
fértil. Quando aplicados no solo, os diferentes minerais existentes nas
rochas também ajudam a recuperar solos pobres e a renovar a fertilização
das áreas de exploração agrícola.
Antes do plantio das lavouras em 2011, os agricultores brasileiros
jogaram na terra cerca de 28,3 milhões de toneladas de fertilizantes
químicos, sendo que mais de 70% foram importados. Essa dependência – em
especial de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), base da adubação no
modelo agrícola predominante no país – está no centro das preocupações
dos especialistas e senadores que participaram do debate.
Conforme alerta da pesquisadora Suzi Theodoro, do Centro de
Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UNB),
qualquer interrupção nesse mercado de fertilizantes convencionais, seja
por disputas comerciais ou por eventual envolvimento do Brasil em
conflito geopolítico com países fornecedores, a produção agrícola
brasileira estará comprometida.
A
preocupação foi compartilhada pelos senadores Rodrigo Rollemberg
(PSB-DF), Jorge Viana (PT-AC), Sérgio Souza (PMDB-PR) e Ana Rita
(PT-ES). Para Rollemberg, que preside a CMA, desenvolver a produção
nacional de fertilizantes é uma estratégia de proteção da economia
brasileira.
- Para um país que tem grande parte da sua balança comercial sustentada
na agricultura, essa dependência afeta a soberania nacional.
Investir em alternativa como a rochagem, para substituir parte da
fórmula de nitrogênio, fósforo e potássio, é condição para a segurança
alimentar – disse Rollemberg.
Sustentabilidade
A favor da rochagem, Cláudio Scliar, Secretário de Geologia, Mineração e
Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), destacou a
grande diversidade geológica do país, com a presença em todas as
regiões de rochas que se prestam à utilização como fonte de nutrientes
para a produção agrícola.
No mesmo sentido, Carlos Silveira e Éder Martins, ambos pesquisadores da
Embrapa, apontaram vantagens da utilização regional das reservas
minerais para reduzir custos de transporte e dinamizar a agricultura
local.
Martins
disse considerar a rochagem uma alternativa não apenas frente à
elevação do preço dos fertilizantes químicos, mas também por ser uma
prática que aumenta a disponibilidade de um conjunto de nutrientes, e
não apenas de NPK.
- A proposta da rochagem é repor minerais a partir das rochas que deram
origem a esses solos, é recompor com minerais primários – disse.
Para os pesquisadores, o tempo maior de liberação de nutrientes a partir
do pó de rocha, em comparação com adubos químicos, é uma vantagem da
rochagem, e não um problema, como dizem os críticos.
Suzi Teodoro comparou as fórmulas de NPK com anabolizantes: geram o
resultado imediato de tornar a terra produtiva para a safra, mas não
sustentam a fertilidade nos anos seguintes. Já na rochagem, os
nutrientes são retidos por mais tempo, sendo mais bem aproveitados pelas
plantas e mantendo bons níveis de fertilidade.
Em resposta a questionamento de Rollemberg sobre impactos ambientais da
rochagem, Suzi Teodoro ponderou que a prática pode ser um destino para
rejeitos hoje produzidos pela exploração mineral realizada no país.
- Enquanto o problema da mineração é armazenar esses subprodutos, a
agricultura tem carência de fertilizantes. Com a rochagem, o problema da
mineração se torna a solução da agricultura – observou a pesquisadora.
Legislação
A expansão do uso do pó de rocha no Brasil esbarra na falta de normas
para registro dos produtos. Rubim Gonczarovska e Mariana Coelho de Sena,
fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, explicaram que o
produto não se encaixa nos parâmetros existentes, sendo enquadrado com
produto novo, que precisa passar pelos trâmites legais para ser passível
de registro.
Para simplificar as normas de comercialização do pó de rocha, o governo
estuda flexibilizar o Decreto 4.954/2004, que trata da fiscalização e do
comércio de fertilizantes e corretivos de solo. Ao final do debate,
Rollemberg informou que a comissão buscará contribuir no processo de
atualização da norma.
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