Carta Compromisso do Levante Popular da Juventude
Nós, do
Levante Popular da Juventude, no momento em que fundamos nossa organização, em
nosso I Acampamento Nacional, com a participação de 1200 jovens de 17 estados
brasileiros, nos comprometemos com a transformação profunda da realidade em que
vivemos.
Enxergamos
um mundo dividido entre aqueles que exploram, e as trabalhadoras e os
trabalhadores que têm o fruto de seu trabalho roubado. Esse é o sistema
capitalista-patriarcal-racista, que mundialmente estabelece as formas de
organização da sociedade na sua forma imperialista. Ele cria uma relação de
dominação entre culturas e povos, destrói o meio ambiente, oprime e explora as
mulheres, assassina a juventude negra, silencia gays e lésbicas e tolhe,
cotidianamente, todos os nossos sonhos.
O Brasil
é um país de natureza e cultura fantásticas, mas carregamos as dores da
escravidão, o saqueio das grandes potências, e uma história de uma elite
dependente, mas que sempre concentrou o poder em suas mãos. Os meios de comunicação,
a terra, a água, energia, a educação, o lazer e a oferta de saúde de qualidade
ainda estão nas mãos dessa elite. Aos trabalhadores, restaram somente as
periferias das grandes cidades, as encostas de morro e as beiradas de rio,
extensas jornadas de trabalho e salários miseráveis; no campo, a reforma
agrária e a produção de alimentos foram deixadas de lado e substituídas pela
utilização de transgênicos e agrotóxicos, tudo orientado para a exportação.
Nós,
jovens, estamos no meio desse furacão: no campo, nas periferias e favelas, nas
escolas e universidades, no trabalho. Somos constantemente disputados pelo
projeto capitalista. É em contraposição a este projeto que nos lançamos ao
desafio da construção do Projeto Popular.
Por isso,
nos comprometemos:
Com a
luta pela construção de uma democracia popular, que socialize com
qualidade as terras, a água, a energia, os meios de comunicação, o acesso à
saúde, à educação, à moradia, ao transporte.
Com a
luta pela soberania, porque os povos devem tomar seu país e sua
história nas mãos, sem serem sujeitados pelo imperialismo ou outros poderosos.
O desenvolvimento deve ser ambientalmente sustentável e estar voltado ao
interesse do povo.
Com a
prática permanente de solidariedade com todos os povos que
sofrem e lutam. Com atenção especial para nossos hermanos latino americanos,
que carregam a mesma história de opressão e luta que nós.
Com a
luta contra o machismo, na sociedade e dentro de nossa organização,
pois, se os trabalhadores são explorados pelo sistema capitalista, as mulheres
são duplamente oprimidas e exploradas: enquanto trabalhadoras, e enquanto
mulheres, pelo sistema patriarcal. Temos que estar lado a lado com as
organizações do movimento feminista no combate ao patriarcado, à violência
sexista e à mercantilização do corpo e da vida das mulheres, assim como
fomentar a auto-organização das mulheres do Levante.
Com a
luta contra o racismo, dentro e fora de nossa organização, porque a
população preta é a mais explorada da classe trabalhadora e mesmo depois de 124
anos da falsa abolição continua sendo o alvo preferencial da violência de
Estado. É necessário lutarmos junto ao movimento negro e outras organizações
antirracistas para que possamos construir uma sociedade livre do racismo.
Com a
luta contra a lesbofobia, a transfobia e a homofobia, também dentro
e fora de nossa organização, porque não existem relações afetivas
mais normais e comuns que outras, e nenhuma orientação sexual deve ser motivo
para legitimar desigualdades e opressões.
Com a
luta por um projeto de educação que sirva aos interesses do
povo. Por isso, defendemos que exista um número suficiente de vagas tanto em
creches quanto em escolas secundárias e universidades, bem como cotas sociais e
raciais, no campo e na cidade. Por isso, também reivindicamos os 10% do PIB
para a educação; a educação só terá qualidade se estiver voltada para os
interesses do povo, atendendo todas e todos.
Com a
luta por transporte público, gratuito e de qualidade,
enfrentando os aumentos nos preços de passagem.
Com a
luta por ampliação do acesso à cultura e ao lazer,
contra sua mercantilização. Lutaremos para que existam mais possibilidades de
produção e troca culturais, como música, teatro, artes visuais, cinema, dança,
e tantas outras formas de expressão. Também utilizaremos da cultura e do lazer
como formas de resistência, de resgate da nossa história e da nossa identidade
de povo brasileiro.
Com a
luta contra o trabalho precarizado e informal. A luta pela
garantia e expansão dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras
(exploradas duplamente, no local de trabalho e em casa) é essencial para a
criação de um país menos desigual. Pela jornada de 40 horas semanais, sem a
redução de salários.
Sabemos
que para isso é extremamente necessária a massificação desta
luta, trazendo cada vez mais jovens para o nosso projeto, porque só a juventude
tem a força necessária para transformar essa sociedade. É com o trabalho
coletivo, combatendo o individualismo e a estagnação, que tomaremos o
futuro em nossas mãos. Esse é o caminho para a liberdade com que tanto sonhamos
e precisamos para viver.
Construiremos
uma organização com coerência: devemos fazer o que dizemos e dizer
o que fazemos; com autonomia, construída por aqueles que trabalham
no Levante; com estudo e disciplina, para dar cada passo
com firmeza, conhecendo com profundidade o caminho que devemos trilhar; com o
exercício decrítica e autocrítica, porque não devemos temer ou
ocultar os erros, mas enfrentá-los de frente, para, então, superá-los.
Entendemos
que serão esses compromissos que garantirão a construção do Levante Popular da
Juventude, do Projeto Popular e da Revolução Socialista brasileira. A
tarefa não é fácil: não esperamos ter todas as respostas nem construir tudo
isso sozinhos, mas nos desafiaremos a dar tudo o que pudermos, porque devemos
nos construir como a juventude que ousa lutar, que constrói alternativas e que
é parte do povo brasileiro. Somente com alegria, amor e muita animação
chegaremos lá!
Juventude
que ousa lutar constrói o poder popular!
I
Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, 5 de fevereiro de 2012,
Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.
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