Demora em licitações e na
entrega de maquinário agrícola ilustra o descaso do estado com famílias
camponesas, em especial, de Crixás, Santa Terezinha e Uirapuru que enfrentam
grave crise do leite
O MCP negocia, desde 2009, recursos,
através do Programa Nacional de Desenvolvimento Territorial (Pronat), para a
aquisição de equipamentos agrícolas. O projeto, de cerca de um milhão de reais,
foi contratado via Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Estado de Goiás (Seagro). A entrega desses equipamentos mudaria de forma
significativa a realidade de famílias camponesas.
“As
famílias dos municípios de Crixás, Santa Terezinha e Uirapuru enfrentam grave
crise, especialmente, na produção de leite. A demora em adquirir e entregar os
equipamentos causou, somente nos últimos dois anos, prejuízo superior a dois
milhões de reais; ou seja, três mil reais por dia para as 300 famílias
camponesas que poderiam ter um preço melhor pelo litro de leite vendido
e entregue, diretamente, na porta da indústria”, afirma o economista e integrante da coordenação nacional do MCP, Altacir Bunde.
Há dois graves entraves
por parte da Seagro. O primeiro, e mais grave, é a conclusão das licitações de um
caminhão para a coleta de leite nas comunidades rurais, dois veículos e quatro motocicletas
para o acompanhamento das famílias. Outro problema é a não entrega de
equipamentos já licitados e que se encontram no pátio da secretaria.
Segundo
informações do
superintendente de Desenvolvimento Agrário e Fundiário da Seagro, Antônio
Sêneca, há um caminhão já licitado, mas a entrega não foi feita porque
o governo de Goiás não pagou a contrapartida.
Sem os caminhões as famílias continuam sem poder entregar sua produção
de leite diretamente na indústria e seguem
vendendo leite a menos de 50 centavos o litro, chegando, às vezes, a 30
centavos.
“Estamos sem condições. O
leite estava sendo levado de frete, mas o carreteiro teve que parar. O único
salário nosso é o da venda do leite. Cada família vendia 50 litros de leite,
por dia, mas agora nem isso está dando, porque não tem como entregar o produto.
Queremos entregar direto para as empresas, sem atravessador. Nosso apelo é
esse, é pelos tanques e veículos que são direitos nossos. Nossa comunidade tem
o sonho de, no futuro, beneficiar o leite aqui mesmo, mas o camponês é sempre
desvalorizado”, reclama Nazareno José da Silva, camponês de Uirapuru.
Após
três anos de muita luta o MCP recebeu, em novembro, parte do
maquinário e equipamentos eletrônicos solicitados através do programa, com 90%
de recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e 10% da Seagro. Na
solenidade, o secretário da agricultura, Antônio Flávio Camilo, comprometeu-se a
entregar o maquinário agrícola e os tanques ainda em novembro de 2012. Passados
mais de dois meses, grande parte do maquinário agrícola, entregue apenas
formalmente, segue no pátio da secretaria. O descaso é tão grande que tanques
de resfriamento de leite a granel estão no pátio desde setembro de 2011.
É
inviável que as famílias camponesas façam o transporte de cargas pesadas pelos
mais de 300 quilômetros que separam Goiânia dos municípios do norte. A entrega
parcial ocorreu após muita pressão do MCP,
inclusive com duas ocupações da secretaria. Agora, o movimento aguarda a
conclusão das licitações e a entrega do restante do maquinário e veículos o
mais rápido possível. O MCP prepara
nova mobilização para cobrar da Seagro as demandas.
A casa do
agronegócio
Goiás
tem 88,4 mil estabelecimentos familiares, ocupando 3.329.630 ha, com média de
3,6 ha por estabelecimento, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). As famílias camponesas são responsáveis pela produção de
alimentos básicos, fornecendo a maioria da comida que vai à mesa dos goianos.
Contudo, é evidente que a agricultura camponesa é invisível para o estado.
O
diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA), Argileu Martins da Silva, afirmou, também em
novembro, que Goiás tem o pior serviço de extensão rural do País, junto com o
Piauí. Argileu da Silva ressaltou que,
no estado, o acesso à assistência técnica é restrito e há grande dificuldade em
fazer com que as tecnologias cheguem às famílias camponesas.
O
serviço só atende 10% da demanda e não atende de forma adequada. Entretanto, a
“casa do agronegócio” segue apoiando, fortemente, a agricultura da morte, que
concentra terras, contamina a natureza e gera miséria no campo e
nas cidades. Pauta comum dos movimentos é a necessidade de reorganizar a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão
Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater - GO), que foi desintegrada. As
organizações do campo também lutam por uma política voltada para a agricultura
camponesa, as propostas já foram elaboradas e apresentadas ao Secretário de
Agricultura, que ignorou o assunto.
Goiás
ter o pior serviço de assistência técnica do país e não ter uma politica para a
agricultura camponesa é devido, principalmente, ao comprometimento do governo,
e da própria Seagro, com ações voltadas, exclusivamente, ao agronegócio e aos
latifundiários ligados à Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Não há política para a agricultura camponesa, as
poucas ações são, apenas, de caráter assistencialista e diante disso não se
pode esperar outra coisa a não ser o abandono às famílias camponesas por parte
do estado.
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